sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

De Vasco Pulido Valente, in "Público"






OPINIÃO
A sra. não está em casa


VASCO PULIDO VALENTE

06/02/2015 - 06:57







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TÓPICOS

Europa
Espanha
França
Itália
Alemanha
Áustria
Rússia
América
Jean-Claude Juncker
Eurogrupo
FMI
BCE
Dívida Pública
Syriza


O Syriza segue desbotadamente a tradição da esquerda revolucionária. Como os jacobinos da revolução francesa (excepto Robespierre), rejeita as convenções de vestuário da antiga classe dirigente, embora se tenha ficado por largar a gravata e pelo casacão de couro do alegado “libertário” Varoufakis, que deve querer impressionar a Europa como o de Trotsky impressionou os diplomatas da Alemanha e da Áustria em Brest-Litovsk.

Em tudo o que Varoufakis e Tsipras dizem e fazem há também a convicção escondida, mas próxima de Lenine e dos bolcheviques em 1918-19, de que o Syriza não se aguentará contra a ordem estabelecida sem o apoio da França, da Itália e da Espanha; ou só se aguentará à custa de uma indizível miséria, como aconteceu na Rússia.

Daí a tournée pelas cortes da Europa destes dois tristes símbolos da insurreição grega. Verdade que vêm hesitantes, com uma atitude que oscila entre a arrogância do seu imaginário poder e suposta razão e a humildade do pedinte inseguro e fraco. Acham que sim, acham que não, acham que talvez; proclamam a sua fé num acordo final e reafirmam intermitentemente uma posição inaceitável. Pelo meio, distribuem propostas; e o BCE, o Eurogrupo e o FMI apertam as regras, exigem contrapartidas, sugerem outros caminhos, mas não cedem. O resultado da embaixada do Syriza ao mundo exterior foi, como não podia deixar de ser, a confusão geral. Jean-Claude Juncker, enternecido, deu um beijinho a Tsipras e, para o acalmar, lá o levou, de mão dada, para o seu escritório. Quem falou aqui em “crianças”?

Um tropo obrigatório desta esquerda neo-romântica é o pagamento da dívida de guerra da Alemanha, que a Inglaterra e a América indexaram ao aumento de exportações da República Federal. O exemplo não serve. Em primeiro lugar, o exército americano e o exército inglês ocupavam a Alemanha e queriam o apoio dela para resistir à expansão soviética que, naquele tempo, parecia ameaçar a Europa. Em segundo lugar, a Alemanha estava fisicamente arrasada pelos bombardeamentos de 1943-45 e o Ocidente não tinha dinheiro para a reconstruir e a alimentar: esquecer a dívida de guerra era do seu interesse (e, ao mesmo tempo, um bom passo político). Já a América não perdoou um tostão da dívida da Inglaterra, que pontualmente a pagou. As pessoas crescidas sabem disto. E a sra. Merkel também. Por isso avisou que não receberia Tsipras (para não aturar a mistura de chantagem e choradeiras com que ele anda por aí a maçar o mundo) e mandou o ministro das Finanças comunicar ao jovem que, para ele, não estava em casa
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